Escandinávia – Parte 1: Estocolmo

Por Jaqueline Furrier – Colaboração de Mel Reis

Quem acompanha o blog sabe que adoro fazer viagens de bicicleta e a desse ano (2015) teve como destino a Suécia e a Dinamarca. Como há ciclovias por todo canto, nas cidades e fora delas, e o terreno é plano, é muito fácil pedalar por aquelas bandas, o que torna o programa acessível para quem pratica ou não o esporte.

O roteiro de bike, de Estocolmo a Copenhague, foi traçado pela Backroads pelo entorno das cidades e não por elas propriamente dito, contando ainda com dois dias pelo interior da Suécia.

Viajei com meu marido e um casal de amigos e para que pudéssemos conhecer as atrações turísticas de Estocolmo e de Copenhague, chegamos dois dias antes e partimos dois dias depois do início e final do pacote de bike.

Para não ficar muito longo, vou dividir a viagem em três posts: este sobre Estocolmo, o próximo sobre o roteiro de bike e um terceiro sobre Copenhague.

Esta primeira parte da viagem, sobre Estocolmo, traz os restaurantes e os passeios.

Um pouco de história:

A capital da Suécia, onde estive pela primeira vez nesta viagem, revelou-se uma grata surpresa em todos os sentidos. A cidade não é só bonita e cheia de gente bonita, mas também limpa, organizada, com boas atrações culturais e gastronômicas, ou seja, tem de tudo para se querer voltar algumas vezes.

A cidade foi fundada no século XIII, quando os vikings mudaram seu centro comercial do norte para ilha de Gamla Stan (centro histórico da cidade). Um século e meio mais tarde, a então rainha da Dinamarca dominou a cidade levando à formação da União de Kalmar, formada pelos reinos da Suécia, Noruega e Dinamarca.

Essa União teve fim em 1523 quando, quando após uma rebelião, Gustav Vasa a se tornou rei da Suécia. No final do século XVI, a cidade se expandiu além de Gamla Stan para as ilhas próximas de Normalm e Sôdermalm, hoje cobre 14 ilhas. Outro boom de crescimento se deu no início do século IXX com a industrialização. Por ter a Suécia se mantida neutra em ambas as guerras, sua capital restou intacta e seus monumentos históricos encontram-se em ótimo nível de conservação.

Como e quando ir:

Não há voos diretos a partir do Brasil para a Suécia, mas é possível fazer conexões em quase todas as capitais europeias. Nós fizemos conexão em Lisboa, por conta de termos conseguido emitir passagens de executiva com apenas 120 mil milhas pela TAP (um achado!), mas acho que as melhores conexões, pela quantidade de voos disponíveis, são Londres e Frankfurt.

A melhor época para visitar não só Estocolmo, mas todos os países da Escandinávia é com certeza o verão, não só pelo clima ser mais agradável, mas por ser a época em que de fato verá as cidades no seu esplendor.

Nossa viagem foi no final do verão (primeira semana de setembro) e as temperaturas já estavam bastante amenas (entre 11ºC e 20ºC). Mesmo assim, vimos muitas pessoas nas ruas, aproveitando os últimos dias de dias mais longos. No inverno, além do frio intenso, os dias são muito curtos. Programe-se. Eu não iria de meados de outubro a meados de maio, pois por conta do frio e também porque muitos locais, mesmo turísticos, fecham ou têm horários reduzidos.

Onde ficar:

Os hotéis de todas as categorias, embora mais caros do que na Europa em geral, oferecem boa qualidade de serviços e acomodações na faixa que atendem.

A melhor área para se hospedar é Noorlman, na região central, próximo a parte histórica (Gamla Stan), onde também há uma grande concentração de restaurantes, bares, lojas etc…, ou seja, onde a cidade de fato acontece.

Nós ficamos no Grand Hotel Estocolmo, que faz parte da rede Leading e é o mais tradicional da cidade. A opção pelo hotel se deu pelo fato de ser onde a Backroads nos acomodaria nas duas primeiras noites da parte da bike. Assim, não vi razão em optar por algo mais moderno e de design que faz mais minha cabeça. Fizemos a reserva pelo booking (você pode usar essa ferramenta clicando do lado direto nesta página, aproveite).

De qualquer modo, não há como reclamar. O hotel tem excelente serviço, um spa muito legal (massagens bem caras), os quartos são confortáveis (acho que os banheiros já estão precisando ser modernizados), e a vista dos quartos para Gamla Stan maravilhosa.

Outras opções que acho mais interessantes e teriam sido minha opção ao Grand Hotel, são os hotéis Lydmar e Ett Hem, da rede Small Luxury Hotels, ou o novíssimo Kungsträdgården, inaugurado em janeiro de 2015.

Como se locomover:

A parte histórica da cidade é bem concentrada e percorre-se toda a pé com facilidade. A maior parte das ruas de Gamla Stam são fechadas para carro. Sei que a cidade possui ótimo serviço de transporte público, mas não o utilizamos, pois percorremos toda a cidade de bike, mesmo nos dois dias que precederam o roteiro da Backroads.

Embora a cidade tenha bicicletas públicas, optamos por alugar por dois dias para tê-las a nossa disposição por todo tempo. Acho que valeu muito a pena, pois a cidade é bem espalhada e algumas atrações ficam distantes para ir a pé. Fora isto tem muitos parques e uma orla sem fim.

Há várias empresas de locação de bike e recomendo muito usar esse meio de transporte, principalmente em cidades com ótimas ciclovias como é Estocolmo. Utilizamos os serviços da empresa Bike Sweden , que também oferece dois tipos de tours de 2 horas cada: Introdução a Estocolmo e Parque Nacional da Cidade, somente de maio a setembro.

Táxis parecem ser a única coisa não regulamentada na cidade. Então peça sempre para o restaurante ou o hotel chamar. Do aeroporto de Arlanda para o centro da cidade o preço é fixo, mas fica a cargo do motorista. De Arlanda ao hotel pagamos SEK 530, mas chegaram a nos pedir SEK 670 (1.00 USD = 8.20147 SEK). A melhor opção  parece ser o expresso Stockholm Arlanda, cujos bilhetes podem ser comprados  pelo site.

Onde comer

Não só de smorgasbord vive a culinária sueca e Estocolmo é citada cada dia mais como uma cidade para foodies. Eu que adoro novidades gastronômicas me esbaldei em algumas das opções gastronômicas da cidade.

Guiei-me na escolha pelos restaurantes citados entre os melhores do mundo pela lista anual da revista inglesa Restaurant e também pelo Guia Michelin.  Não há restaurantes 3* Michelin na cidade, mas meu feeling diz ser por conta dos ambientes despojados, alguns até um pouco desconfortáveis, e não porque a cozinha não mereça as sonhadas estrelas.

De qualquer modo a sensação que tive é que em qualquer local é possível se fazer uma refeição legal e com produtos de qualidade. A cidade é lotada de pequenos cafés e restaurantes e nem me lembro de ter visto uma cadeia internacional de fast food.

Abaixo seguem os locais onde fizemos nossas refeições (5 jantares e 2 almoços). Reservar é essencial e todos nos quais estivemos estavam lotados.

Almoços

Den Gyldene Freden: a opção por esse bibi gourmand foi a localização em Gamla Stan, onde despendemos um dia pelos lugares históricos. Chegamos sem reserva, às 15:00 e estava tranquilo. Esse restaurante é uma ótima opção, não só pela excelente comida, mas porque fica aberto todos os dias sem interrupção entre almoço e jantar (das 11:30 às 22:00), com exceção de domingos.  Além das opções a la carte há um menu no almoço com preço convidativo.

Riche: Outra boa opção que não fecha entre almoço e jantar. Localizado na agitada av. Jarlsgatan, em Noorlman, abre todos os dias da semana e de segunda a sexta, começa a servir café da manhã às 7:30 e só fecha bem tarde da noite. Aos sábados e domingos abre ao meio dia. Fomos num sábado também às 15:30 sem reserva e estava lotado. Nos arrumaram uma mesa, mas tivemos que garantir que a desocuparia até às 17:00. A comida é de brasserie com ingredientes locais. Quando estivemos o menu era de brunch e comi as tradicionais ovas com creme azedo (kalix vendace roe), que é uma entrada encontrada em muitos restaurantes (não deixe de provar), e também uma torrada com cogumelos.

Jantares

Frantzén: Esse pequeno restaurante em Gamla Stam é considerado pela Restaurant como o segundo melhor da Suécia (31º da lista dos melhores do mundo), depois do Faviken (25º), que fica na cidade de Jarpen. Só há um menu de 14 pratos, o ambiente é pequeno, composto de um balcão e poucas mesas, o preço é caro, mas a comida de fato surpreende. Tem 2* Michelin e para mim foi a melhor refeição de toda a viagem. O serviço é eficiente e nada pretensioso.

Esperanto: Com 1* Michelin e 97º colocado na lista de 2015 da Restaurant, o restaurante do chef SayanIsaksson, oferece apenas 2 menus degustação (6 ou 10 pratos), com ou sem harmonização de bebidas. Os ingredientes são locais e da temporada, mas percebe-se claramente a influência japonesa na elaboração dos pratos. Um balcão com apenas 10 lugares e que serve somente comida japonesa (Shibuni) foi inaugurado no início de setembro de 2015 e estava lotado.

Apesar de os pratos serem muito bem executados, achei pouco surpreendentes. Foi o ambiente mais formal dentre os restaurantes que visitamos em Estocolmo, mas não é necessário paletó para os homens.  Fica na parte superior de um antigo teatro, Jarlateatern, e no térreo há outro restaurante mais casual, do mesmo grupo, Rakultur, que serve comida japonesa e estava lotado quando chegamos.

Oaxen Slip: Fica de frente a uma marina em Dijurgârden e, embora afastado, vale a visita. O local tem ambiente descolado e comida deliciosa, com muitas opções para serem compartilhadas. Divide o mesmo prédio com o 1* Oaxen Krog e um hotel. Essencial fazer reserva, pois mesmo a nossa sendo para as 9:30 estava lotado e assim permaneceu até o final.

Fem Sma Hus: serve comida típica sueca, aquela que as famílias preparam e em nada se parecem com as que os novos e badalados restaurantes apresentam. Confesso que cheguei a torcer o nariz para escolha do segundo jantar da Backroads, mas tenho que confessar também que gostei. Se é do tipo que tem restrições ou que não se sente confortável com muitas novidades é, sem dúvida alguma, uma boa escolha. Achei os pratos bem preparados e o preço muito justo, mesmo o dos vinhos. Fica num porão muito simpático em Gamla Stan e mesmo sendo um restaurante que sempre tem mesas grandes com grupos é simpático e acolhedor. Eu provei novamente as ovas (vendaces) e filé de rena com molho de vinho, cogumelos e purê.

Verandan: O restaurante do Grand Hotel é famoso por seu smosgarbord, e foi isto que provamos no primeiro jantar organizado pela Backroads. Acho que vale muito a pena, mesmo que não esteja hospedado no hotel. É servido no sistema buffet com várias ilhas, mas a tradição manda que se siga uma ordem e os maitres a explicam para que melhor se possa apreciar (para mais detalhes, veja a foto abaixo). A bebida recomendada é o aquavit, que merece ao menos ser provado, acompanhado de cerveja.

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O que fazer

Há muito o que se ver na cidade e dois dias só é pouco tempo. Como a visita ao Palácio de Drottningholm, que fica afastado da cidade (ver no final do post), já estava no roteiro da Backroads, dividimos os dois dias que tivemos em um para o centro histórico e outro para o Djurgarden, onde há vários museus.

Como já disse, fizemos todos os trajetos de bicicleta e foi muito proveitoso. Vou colocar abaixo as atrações que conseguimos fizer em cada dia e também algumas que faltaram, para que se localize e se programe.

No mapa no final do post estão marcadas tanto as atrações como os restaurantes e hotéis citados neste post e pesquisados para a viagem (os restaurantes marcados com losango são Bibi Gourman, os com estrela possuem 1* Michelin e os quadrados possuem 2*).

Não compramos, mas acho que o “The Stockhoml Card” vale a pena para aproveitar o máximo o que a cidade oferece com um custo reduzido.

Gamla Stam

Local de fundação da cidade e onde está a maioria dos prédios históricos. Como o bairro é compacto pode-se percorrê-lo em menos de 2 horas. Programe-se, então, para ver a atrações que lhe interessam e fique atento aos horários, pois variam muito de estação para estação do ano. Alguns locais oferecem tour guiados que valem a pena.

Vale também se perder pelas ruazinhas cheias de cafés, restaurantes e lojas de souvenires.

Igreja Alemã (Tyska Kyrkan)

O nome oficial é Igreja de Santa Gertrudes, mas é conhecida como igreja alemã devido a sua origem como mercado de artesãos alemães na idade média, antes de se tornar igreja para os residentes alemães. Tem interior barroco, lindos vitrais e um púlpito de alabastro de tirar o fôlego.

Royal Palace (Kungliga Slottet)

Maior palácio do país e um dos maiores da Europa usados ao fim que foi construído. Residência oficial da família real, embora o atual casal real more no Palácio de Drottningholm, ocupa boa parte Gamla Stan e o acervo mais legal é o das joias da coroa (Treasury Museum). Como o palácio é grande, mas um tanto sem graça, acho que vale a pena fazer o tour guiado (não fizemos) para ficar por dentro da parte histórica (11:00 e 14:00 de maio a setembro e 14:00 e 15:00 no resto do ano). Incluído no ticket também está o Kronor Palace, que  fica no porão do Palácio Real e mostra itens e paredes de anteriores ao incêndio que o destruí no século XVII . Vale a visita, mas é rápida.

Nobel Museum

Fica logo ao lado da Catedral e não visitamos por falta de tempo. Traz a história do Prêmio Nobel e tem tours guiados, recomendado por alguns guias (10:15, 11:15, 13:00, 15:00, 16:00)

Catedral de Estocolmo (Storkyrkan)

É o prédio mais antigo da cidade e também onde acontecem as coroações e casamentos reais. Contudo, não espere nada de grandes luxos. O estilo interior é gótico e as principais relíquias são os camarotes da família real e uma escultura de São Jorge matando o dragão.

Com um pouco de esforço, dá para percorrer no mesmo dia a área central de Norrmalm, passear pelos jardins de Kungstradgarden (parque mais antigo da cidade) e apreciar seus monumentos, assim como os prédios do seu entorno.

Nessa região estão ainda, a Ópera de Estocolmo, o Museu Hallwyl, que leva o visitante a voltar 100 anos visitando o palacete dessa rica família. No interior tem um restaurante badalado, que não conseguimos ir porque estava fechado para uma festa quando lá estivemos.

Não propriamente na região, mas bem cerca desta está a Prefeitura (City Hall – visitas somente guiadas), um dos prédios que mais se sobressaem no skyline da cidade e hospeda o baile de gala anual da entrega do Nobel.

Djurgarden

Uma das ilhas da parte central da cidade que é tomada por um vasto parque, onde se estão localizados vários museus, monumentos, parque de diversão, marinas etc… Fomos até lá pedalando e passamos o dia. Dá para ir caminhando, mas neste caso ficará difícil percorrer boa parte da área, pois o bairro todo é imenso.

Abaixo seguem os locais que visitamos por lá e também as demais opções, caso tenham muitos dias na cidade.

Na primeira foto: "Djurgarden". Licenciado sob CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons - 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Djurgarden.jpg#/media/File:Djurgarden.jpg

Vasa Museum

Talvez a atração mais conhecida da cidade. Abriga o único navio do século XVII ainda preservado no mundo. Construído em 1628, o navio de guerra afundou na costa da cidade no dia da inauguração, após navegar apenas 2km. O navio permaneceu naufragado até ser retirado quase intacto em 1961. A história sobre a construção é mostrada de várias formas. É uma atração imperdível e vale a pena fazer o tour, que está incluído no ticket.

Skansen Open Air Museum

O mais velho museu a céu aberto do mundo também é considerado uma das principais atrações da cidade. Ficamos por volta de 3 horas no local, mas o frio atrapalhou. Há construções originais de diversas épocas (a maioria dos séculos XVI e XVII) e de distintos locais do pais. Das 150 existentes apenas 3 são cópias e as demais originais transportadas para o local. Se estiver com crianças, há várias atrações para entretê-las.

Ainda estão na área do parque o aquário Aquaria Vatenmuseum, o museu de etnografia Nordiska Museet; o parque de diversão Grona Lund e o Palácio de Rosendal.

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Atual residência dos reis da Suécia fica distante do centro da cidade. Fomos num programa de bike, voltando de barco, um bom meio para se ir e volta do local, mas há outros transportes público à disposição do visitante. 

O mais preservado palácio sueco do século XVII é cercado de vasto jardim e ostenta um Teatro da Corte, ainda em atividade, e um Pavilhão Chinês, ambos tombados pela UNESCO.

Com crianças:

Não levei minha filha nesta viagem, mas como pude perceber que há muitas coisas do interesse das crianças. Há várias opções no Stockholm Guide para os baixinhos.

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  1. […] pedalar 39 km por parques e ciclovias que correm paralelamente e perpendicularmente à beira mar (ver detalhes no próximo post) e uma manhã para um walking tour pelo centro […]

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